Não tem como negar, tem um movimento muito poderoso acontecendo
Minha semana começou como qualquer outra. Depois de uma hora de esteira, fui caminhando feliz da vida pela Paulista até chegar no espaço de coworking da FIAP . Me encontrei com Fernanda Nudelman, fundadora do coworking space Ponto de Contato e com seu marido Marcus. Tínhamos tentado umas vinte vezes nos encontrar no ano passado e finalmente nossas agendas coincidiam. Conversamos animadamente por uma hora e pouco, trocando experiências e visões para os novos espaços, tentando achar formas conjuntas de colaboração. O Marcus contou como ele tinha saído recentemente de uma carreira promissora numa multinacional para ajudar a expandir o negócio e trabalhar num modelo de franquia. Perto do final da conversa, por alguma razão – ah sim! Eles me falaram de uma das empresas que passou pelo espaço deles – a Cinese (mais sobre ela a seguir!) – a coisa foi que esbarramos no apaixonante tema de educação e ele comentou sobre um livro, O Clube do Filme, que conta como um pai fez parte da educação de seu filho, que não queria continuar na escola, através de filmes. Na hora fiquei curiosa e pedi para emprestar.
Na sequência, recebi uma ligação da nossa assessoria de imprensa perguntando se eu poderia conceder uma entrevista para uma revista de TI falando sobre as diferenças entre empresas grandes e estabelecidas com as novas empresas que têm bombado como o Facebook. Aceitei e fiz a entrevista por telefone. As perguntas foram boas e tive a chance de falar da importância das empresas grandes outorgarem mais liberdade, autonomia e significado ao trabalho dos funcionários para poder acompanhar o que está acontecendo no mercado.
E o que está acontecendo no mercado? Já faz um tempo que eu vinha sentindo algo, mas me deparei com a grata surpresa este ano do novo livro The Icarus Deception, de Seth Godin (indicado pelo sempre visionário e antenado Miguel Cavalcanti da Beefpoint) e ver que o que eu vinha sentindo é de fato uma tendência que está sendo validada por um grande visionário e inovador como ele. Não dá para resumir num parágrafo, mas basicamente o que ele diz é que a economia da conexão mudou a zona de conforto de nosso mundo,e o que antes era escasso – diversidade, qualidade, competência – hoje é abundante, e o que hoje é escasso é conexões, honestidade, surpresa. Não por nada me encantei o ano passado com o poder da mágica e a felicidade que um show ou ato de mágica pode despertar em qualquer pessoa, independente da idade (tks Guto Thomaz e Ricardo Malerbi!). Seth fala que o que esta nova economia está valorizando são os artistas, mas não no sentido tradicional de quem pinta um quadro ou faz uma escultura (mesmo que não os exclua!) mas no sentido de pessoas que são capazes de navegar sem mapa, que estão sempre criando e testando coisas novas, que fazem conexões entre pessoas e coisas que às vezes parecem desconexas. Super recomendo – leiam que vale a pena!
Em seguida, fiz a entrevista com a Camila Haddad, cofundadora da Cinese, e novamente grata surpresa ao achar que, com um perfil super tradicional, Camila e sua irmã montaram uma plataforma onde qualquer pessoa pode postar e divulgar o que ela tem para ensinar. Por que? Porque na pesquisa que fizeram, elas enxergaram que para realmente ter uma economia sustentável precisamos parar de enxergar nas pessoas só o seu poder como consumidores e ir mais a fundo, requestionando os nossos modelos educacionais. Sensacional.
Bom, terminei a semana ligando para meu pai na Guatemala para ver como ele estava e comentei sobre o livro O Clube do Filme.
“Hum!” resmungou, “exatamente o tipo de livro que eu gosto.”
Eu sabia que estava provocando ele, um homem formado no modelo tradicional de educação e que trabalhou a vida inteira na mesma empresa. Mas gosto de fazer isso só por brincadeira (a criança rebelde dentro de mim ainda tentando chamar a atenção). Hoje, aposentado, meu pai se dedica à sua estufa de orquídeas e vive sua vida como ele sempre sonhou – com um escritório dentro da estufa, uma rede para suas sonecas, um mini bar para seus aperitivos e uma agenda cheia de viagens ao redor do mundo para visitar exposições de orquídeas. Hoje descobri que até tem um termo para isto – shedworking – no portal da Movebla.
Mas embora meu pai e outros não acreditem, tem algo acontecendo e precisamos ajustar (ou limpar!) nossas orelhas para ficar antenados às milhões de oportunidades e disrupções que estão acontecendo. Eu, por sorte, não preciso disso, pois toda noite o gato solitário que mia a todo pulmão no prédio do lado me lembra que sim, não dá para negar, tem um movimento muito poderoso acontecendo.
Nathalie Trutmann. Diretora de Inovação da FIAP. Graduada pela University of California, San Diego (EUA), MBA Internacional em Administração de Empresas pela INSEAD (França). Dezoito anos de experiência internacional em marketing e novos negócios nos Estados Unidos, Ásia e América Central. Sólidos conhecimentos em empreendedorismo digital e de TI. Proferiu diversas palestras sobre inovação em eventos locais e participou da comissão julgadora de concursos sobre empreendedorismo. Sócia da zinga.com.br e consultora para startups estrangeiras que querem entrar no Brasil. Autora da Plataforma Brasil20.org, que cobre perfis e experiências de empreendedores brasileiros. Coautora do livro “Empreendedorismo de Alto Impacto” (editora Évora). Membro do DWEN, grupo de mulheres empreendedoras da Dell. Diretora-fundadora do grupo executivo 85 Broads. Responsável pela parceria da FIAP com Singularity University (SU). Embaixadora da SU para o Brasil.
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