Como está sua empregabilidade?
Nos últimos anos, a propaganda oficial do governo sobre o pleno emprego no Brasil tem um efeito nos profissionais de uma pseudossensação de conforto. Ela é transformada em uma ilusão de garantia de emprego, algo como se a descontinuidade do emprego vier a acontecer por qualquer motivo e a qualquer momento, no dia seguinte um novo emprego estaria disponível. Mas será que isso é verdade? E, sendo verdade, permeia a todos os níveis hierárquicos?
Diferente das propagandas e dos sentimentos, a realidade cotidiana mostra que as pessoas possuem um medo crescente de perder o emprego, seja por alterações nas corporações por fusões, aquisições, ajustes ou pela falta de atualização acadêmica.
O fato é que poucos profissionais conseguem definir o seu nível de empregabilidade. A grande maioria acredita que, utilizando-se a métrica de quanto mais diplomas e certificações se conseguir acumular, maior será nível de empregabilidade, a verdade é que não existe uma exata correlação entre diplomas e certificações com oferta e oportunidade de empregos.
Observando o mercado, principalmente o de TI, podemos definir alguns balizadores que nos ajudarão a criar um score de empregabilidade. Inicialmente, vamos dividir os profissionais em dois grandes grupos: os técnicos e os gestores. E uma premissa importante para entender a análise: o técnico tem a sua empregabilidade medida por o que ele conhece e o gerente por quem ele conhece.
Distribuindo técnicos e gestores por sua senioridade e tipos em uma pirâmide, teremos, na base, uma grande quantidade de vagas e, a cada passo em direção ao topo, as vagas vão diminuindo e teremos a primeira foto de como a empregabilidade é distribuída na carreira.
Analisando a base, onde os entrantes possuem um nível de experiência pequeno, sua empregabilidade está diretamente ligada à sua formação acadêmica. Como não se sabe como será o futuro profissional, a decisão é optar pelos mais estudiosos. Porém, assim como no futebol, diversas promessas terminam em grandes fiascos. Claro que no mundo corporativo não é diferente. Muitos profissionais recém-formados, com notas fantásticas e diplomas em grandes instituições, mostram-se um fiasco profissional, acabam ganhando o título de profissionais em certificação e diploma. A sugestão para estes estudiosos não perderem seu nível de empregabilidade é que eles enveredem pelo mundo dos concursos públicos, onde seu desempenho em fazer prova irá garantir uma empregabilidade eterna.
A maior empregabilidade encontrada atualmente está poucos degraus acima do entrante descrito anteriormente: ele possui poucos anos de carreira, já mostrou que não é apenas um fazedor de provas, tem formação sólida, possuindo um diploma de nível superior em uma faculdade de primeira linha, pelo menos duas certificações na área de atuação e um sobrenome empresarial conhecido (empresas de primeira linha e não fundo de quintal), com idade entre 20 e 24 anos, o mercado o define como Pleno. Com perfil generalista, tem facilidade de ser alocado em várias áreas, normalmente não possui um salário que desequilibre uma área ou um projeto e suas funções, mesmo quando mal exercidas, não destroem o projeto ou a operação. Atualmente estes profissionais são os queridinhos do mercado.
Mais alguns degraus acima e chega-se aos sêniores. Uma característica comum entre eles é o alto nível de especialização e vivência profissional – quanto mais especialista o técnico mais sênior ele é. Consequentemente, terá um valor maior de mercado, porém sua empregabilidade começa a ficar limitada a alguns nichos, ou seja, mesmo ainda requisitado pelo mercado, terá locais e empresas específicas para atuar. Como exemplo podemos falar de um DBA Sênior, especializado banco de dados Oracle, que está no topo da pirâmide técnica. Este profissional não é encontrado em qualquer empresa. Isso ocorre porque não são todas as empresas que necessitam de alguém com este nível de conhecimento para atuar. Corriqueiramente é mais fácil contratar alguém pontualmente para resolver um problema que exige um nível de conhecimento tão alto do que ter em seus quadros um profissional caro para situações de exceção. Estatisticamente, a grande maioria dos problemas de banco de dados nas empresas é solucionada pelos DBA Plenos.
Encontramos neste local da pirâmide um grande divisor de águas: os profissionais neste patamar estão maduros (tanto profissional quanto cronologicamente) e, inevitavelmente, terão dois caminhos a seguir: se ele estiver em uma grande empresa terá seu emprego garantido por um longo tempo, continuando na carreira técnica; se esta grande empresa for o fabricante do produto que ele tem alto conhecimento, melhor ainda, principalmente porque, em empresas com este perfil, a carreira Y é uma realidade. Com isso, sua empregabilidade estará garantida por muito tempo.
Porém, caso este profissional esteja em uma empresa menor, ele é um grande candidato a virar gerente, até porque é caro demais para ser alocado em um único projeto e, conhecendo a maioria dos clientes e dos técnicos, acaba acumulando a função de líder técnico e do relacionamento com o cliente que era realizado pelo comercial.
Diferente do que muitos da base da pirâmide pensam, a vida de gerente não é simples nem muitas vezes boa. Ela muda completamente, mesmo nas funções mais básicas de Gerente Jr., onde ainda não possui grande poder de destruição, mas sua vida nunca mais será a mesma.
É alçado a esta posição normalmente pela relação de confiança que conquistou com o superior e terá no seu relacionamento com clientes, chefes, liderados e fornecedores o grande balizador da sua empregabilidade. É claro que sua ascensão dependerá também dos resultados financeiros e estratégicos dos projetos ou operações que liderou, mas não é raro encontrar gerentes com excelentes resultados financeiros desempregados por terem problemas de relacionamento.
Quanto mais próximo do topo da pirâmide, mais concorrência encontrará. A empregabilidade, neste momento, é medida por uma complicada matriz de fatores. A formação acadêmica e os cursos de especialização universitária continuam a ser importantes, mas os fatos com maior relevância estão ligados aos resultados que conseguiu, até porque não há empregabilidade que resista a uma carreira forjada ao acúmulo de insucessos e prejuízos. Não esquecendo que, neste ponto da carreira, o poder de destruição e de visibilidade para o cargo que ocupa é muito grande.
Portanto, algumas dicas são importantes para garantir a sua empregabilidade: estude sempre, aprenda diariamente, procure estar nas empresas de ponta e aparecer o suficiente para ser lembrado, mas nunca o suficiente para ser o centro único das atenções.
Alberto Marcelo Parada. Professor de MBA na FIAP. Palestrante e articulista, formado em administração de empresas e análise de sistemas, com especializações em gestão de projetos e outsourcing. Experiência de 20 anos ministrando treinamentos na capacitação de executivos, média gerência e níveis operacionais; executivo com mais de 25 anos de experiência em implantação de soluções de TI para grandes empresas.



