Quem é o fantasma que assombra os que não empreendem?

15 de dezembro de 2014
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Como é bom tirar férias, pensou Metno Ecov enquanto caminhava pelas ruas de Milão em 1975. Já tinha visto as fotos do Duomo, mas nada como ver a catedral ao vivo.

Tudo era agradável naquela cidade, das pessoas às cafeterias. Não havia cafeterias daquele jeito nos Estados Unidos, pensava ele. Em Milão, o café era de alta qualidade, o atendimento atencioso, e era possível ler um livro sem que ninguém o importunasse.

Na dúvida entre um cappuccino e um expresso, pensou em abrir um negócio assim. Mas havia muito que fazer. Não ia sair da cidade sem um terno Ermenegildo Zegna, afinal a sede da empresa ficava na cidade. Na loja da marca percebeu que não havia jeans para comprar.

E, pensando bem, não havia nenhuma marca que comercializasse jeans do tipo ultra premium. Será que não haveria uma oportunidade de negócio aí? – pensou. Nada como sair da rotina para identificar várias oportunidades de negócio! – disse sorrindo ao sair da loja.

As férias acabaram e Ecov voltou à sua rotina no mercado financeiro de Wall Street. Anos depois, leu uma reportagem em que dois italianos, Renzo Rosso e Adriano Goldschmeid, haviam criado uma marca de jeans de alta qualidade. Lembrou-se da sua ideia e sorriu ironicamente. Alguém tinha copiado sua ideia.

Mas depois ficou tranquilo, ninguém ia pagar uma fortuna por um jeans de uma marca chamada Diesel. Mais alguns anos e intuitivamente entra em uma cafeteria em Nova York que era uma cópia das cafeterias que tinha visto em Milão.

Tudo remetia à Itália. Havia cappuccinos, expressos, macchiato e lattes. Estava adorando aquilo até ler a história de Howard Schultz, que tinha ido à Milão e se apaixonado pelos cafés italianos.

Era a sua história, com a exceção de que Schultz tinha pedido demissão para criar a cafeteria na qual Ecov estava agora. Alguém tinha copiado a sua ideia de novo. Mas ficou tranquilo novamente, o nome também era ruim: Starbucks, o nome de um dos personagens do romance Moby Dick.

Metno Ecov continuou viajando nas férias. Há uns cinco anos visitou o Brasil. Ficou apaixonado pelo país, principalmente pelo docinho redondo de chocolate granulado cujo nome fazia cócegas na língua quando mencionado.

Nos Estados Unidos havia lojas especializadas em cookies, cupcakes, cheesecakes e até só de arroz doce. Por que não criar uma que só vendesse “breegaderros”?

De volta à Wall Street, perdeu seu emprego na crise econômica de 2008-2009 e resolveu imigrar para o Brasil.

Mas, antes, foi entender como Debbi Fields criou a Mrs Fields, uma rede de lojas que só vende cookies e como o casal Oscar e Evelyn Overton criou a Cheesecake Factory, rede de lojas especializadas em tortas de queijo. Era hora de colocar em prática a sua ideia de uma loja só de brigadeiros, que ele mesmo já sabia como fazer.

Qual foi a sua surpresa quando se deparou com uma loja da Brigaderia em São Paulo. Fundada por Taciana Kalili em 2010, a empresa faturou mais de R$ 10 milhões em 2012, só vendendo os tais “breegaderros”…

Copiaram a minha ideia novamente! – resmungou, enquanto tomava um caramel macchiato na Starbucks.

Na verdade, Ecov nunca existiu, mas não é um personagem fictício. Ele existe dentro de nós todas às vezes que temos boas ideias e não as colocamos em prática. Metno Ecov é o nosso fantasma que surge sempre que lemos o seu nome ao contrário.

Suas boas ideias de negócio acontecerão, com ou sem você!

 

Marcelo Nakagawa é diretor de empreendedorismo da FIAP, além de atuar como professor de empreendedorismo e inovação nas principais escolas de negócio do país. É membro do conselho da Artemísia Negócios Sociais e da Anjos do Brasil, mentor do Instituto Empreendedor Endeavor, coordenador acadêmico do Movimento Empreenda da Editora Globo, colunista do Estadão PME e da revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios. É pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Gestão Tecnológica e Inovação da USP. Possui mais de 20 anos como executivo, tendo atuado nas indústrias financeira/bancária, consultoria empresarial, venture capital, inovação e private equity. É doutor em Engenharia de Produção (POLI/USP), mestre em Administração e Planejamento (PUC/SP) e graduado em Administração de Empresas. Autor do livro Plano de Negócio: Teoria Geral (Editora Manole, 2011) e co-autor dos livros Engenharia Econômica e Finanças (Elsevier, 2009), Sustentabilidade e Produção: Teoria e Prática para uma Gestão Sustentável (Atlas, 2012) e Empreendedorismo inovador: Como criar startups de tecnologia no Brasil (Evora, 2012).

 

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