Já falou de empreendedorismo com seus filhos?

5 de janeiro de 2015
Compartilhe

Ainda me lembro do e-mail do pai de uma aluna que agradecia pelo fato de ter despertado o empreendedorismo em sua filha. Ela realmente tinha sido uma das melhores da classe. E a novidade é que parecia estar muito mais engajada no negócio da família.

Notei algo semelhante em Babson College quando estive lá. Conheci a Catherine Portner, uma aluna do MBA que planejava reerguer o negócio do seu tataravô. O problema é que o tal negócio, a cervejaria Robert Portner Brewing Co, tinha fechado as portas em 1915, diante da Lei Seca, e nenhum dos seus familiares teve interesse em retomar o negócio. Será que Robert Portner não teria ficado decepcionado com seus filhos que não levaram o seu negócio adiante, como fizeram os familiares dos seus concorrentes? 

Imaginei que isto também fosse parte da preocupação do pai da minha aluna e de muitos outros pais, empreendedores ou não, a respeito do futuro profissional dos seus filhos.

Mas, até que ponto educamos nossos filhos para que sejam realmente empreendedores? A imensa maioria dos pais se preocupa em programar seus filhos para serem bons empregados e não bons empreendedores de suas carreiras profissionais, em um momento em que o emprego se torna cada vez mais momentâneo, frágil e impessoal.

Mas será que podemos incentivar o comportamento empreendedor em nossos filhos? Muitos empreendedores acreditam que sim.

Salim tinha 8 anos quando pediu uma bicicleta ao pai.  Para sua surpresa, recebeu dois sacos de laranja e um canivete. Foram para frente do estádio de futebol da cidade para vender laranjas descascadas. No final do dia, Salim foi contar o dinheiro. “Aprendi a comprar a bicicleta e o que mais quisesse na vida”, diz Salim Mattar, fundador da Localiza Rent a Car. Com isto, aprendeu a se virar em qualquer situação.

Meyer também tinha mais ou menos a mesma idade de Salim quando ficou sabendo que precisava usar óculos. Ele e seu pai foram a uma ótica para consultar o preço dos óculos desejados. Já na segunda ótica, ele fica radiante ao falar para o pai, na frente do vendedor, que os mesmos óculos estavam muito mais baratos do que na primeira loja. Seu pai o tira da loja para lhe dar a maior bronca da sua vida. Ia começar a negociar um preço melhor com o vendedor, quando o menino atrapalhou seu plano. Com isto, Meyer Nigri, fundador da Tecnisa, aprendeu a comprar. 

Ainda menino, Alair ficava maravilhado em ver como seu tio, dono de um mercadinho, apresentava o arroz que vendia a granel para suas clientes. Ele espalhava uma amostra sobre um tecido azul escuro que destacava a brancura do arroz. A qualidade do produto ficava nítida e o produto era vendido rapidamente. Desta forma, Alair Martins, fundador do Grupo Martins, aprendeu que a qualidade em si pode não ser suficiente, é preciso destacá-la. Com isto, aprendeu a vender. 

Apesar da saúde frágil, Carl Page, professor de Ciência da Computação da Michigan State University, não se cansava de ensinar a seus filhos, Carl Jr. e Larry, sobre as inúmeras aplicações da computação. Eram horas de debates sobre os grandes problemas da humanidade e aplicações computacionais. Anos depois, Carl Page Jr. se tornou milionário ao fundar o eGroups e vendê-lo ao Yahoo! por US$ 432 milhões. Quanto ao outro filho, Larry Page… bem, ele cofundou o Google.

 

Marcelo Nakagawa é diretor de empreendedorismo da FIAP, além de atuar como professor de empreendedorismo e inovação nas principais escolas de negócio do país. É membro do conselho da Artemísia Negócios Sociais e da Anjos do Brasil, mentor do Instituto Empreendedor Endeavor, coordenador acadêmico do Movimento Empreenda da Editora Globo, colunista do Estadão PME e da revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios. É pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Gestão Tecnológica e Inovação da USP. Possui mais de 20 anos como executivo, tendo atuado nas indústrias financeira/bancária, consultoria empresarial, venture capital, inovação e private equity. É doutor em Engenharia de Produção (POLI/USP), mestre em Administração e Planejamento (PUC/SP) e graduado em Administração de Empresas. Autor do livro Plano de Negócio: Teoria Geral (Editora Manole, 2011) e co-autor dos livros Engenharia Econômica e Finanças (Elsevier, 2009), Sustentabilidade e Produção: Teoria e Prática para uma Gestão Sustentável (Atlas, 2012) e Empreendedorismo inovador: Como criar startups de tecnologia no Brasil (Evora, 2012).

 

Nosso site armazena cookies para coletar informações e melhorar sua experiência. Gerencie seus cookies ou consulte nossa política.

Prosseguir