Sigilo da informação é possível
Edison Fontes*
Nas minhas aulas e palestras sempre acontece uma pergunta sobre sigilo da informação – como proteger uma informação secreta? Como proteger uma informação realmente crítica para a organização? – e sempre vem o complicador: e se a pessoa sai da organização e vai para o concorrente? Ou situações equivalentes…
Começo a responder registrando algumas premissas. Estamos tratando de uma situação onde:
- A informação realmente tem um alto nível de sigilo/confidencialidade.
- A organização e as pessoas envolvidas realmente querem garantir a confidencialidade da informação.
- Um vazamento de informação pode causar perdas humanas ou um impacto (financeiro ou de imagem) que pode tirar a organização do mercado onde atua ou pode colocar em risco uma nação.
- As pessoas tratam profissionalmente o assunto.
Dito isto, considero que é possível desenvolver ações para possibilitar um nível de sigilo adequado. A garantia será maior na medida em que as execuções dos controles sejam bem realizadas. Porém, temos o fator humano que é fundamental, mas que sofre as mais variadas influências. Esse será o grande fator de risco.
De uma maneira geral temos algumas orientações básicas:
- A informação pode ser dividida e apenas um restrito grupo saberá a informação como um todo.
- O acesso à informação deverá ser controlado e a autenticação do usuário deverá ser a mais sofisticada possível.
- O armazenamento da informação e a sua transmissão serão sempre protegidos através de técnicas tipo criptografia.
- A proteção das cópias de segurança terá o mesmo grau de sigilo e proteção quanto a informação original.
- Tudo o que acontecer com a informação deve ser registrado permitindo identificar comportamentos não usuais.
- Devem existir regras explícitas sobre o acesso e controle da informação.
Como exemplo cito três situações: duas reais e uma de ficção (mas possível de acontecer).
- Sigilo de 30 anos – Caso Watergate.
As denúncias do Caso Watergate feitas por dois jornalistas do Washington Post (Bob Woodward e Carl Bernstein), tinha uma fonte secreta do FBI que validava o caminho que os dois jornalistas estavam seguindo e eventualmente sugeria novas linhas de investigação. Esta fonte, Mark Felt, fez um acerto com os jornalistas de que eles poderiam divulgar seu nome somente após sua morte. O acordo estava em andamento, porém, o próprio Mark Felt, em 2005, aos 91 anos de idade, resolveu dizer o que aconteceu, contando a sua versão. O jornalista Bob Woodward confirmou tudo o que Felt declarou. Em dezembro passado, Mark Felt com 94 anos faleceu.
- Os lançamentos da Apple
Os lançamentos (inclusive nomes, formatos) dos produtos da Apple sempre trazem uma surpresa. Algumas características dos produtos somente chegam ao público e à própria mídia quando Steve Jobs as anuncia. No livro “A cabeça de Steve Jobs”, Leander Kahney descreve como a Apple, aliás, Steve Jobs, exige o sigilo dos produtos. Ele era linha dura em relação ao sigilo das informações.
- Ficção: A ira da Águia – Humberto Loureiro, Literalis Editora.
Neste livro, o autor Humberto Loureiro descreve uma situação em que um cientista brasileiro constrói um elemento que coloca o Brasil em possibilidade de defender a Amazônia, e sua água, dos “interesses humanitários” das grandes potências. Construir, guardar e manter esse segredo é um dos enredos do livro. A situação se passa em um futuro próximo, mas considera um passado recente. O que você faria como um dos dirigentes do país?
Em resumo: é possível manter o sigilo da informação. Porém exige esforço, recursos e uma abordagem profissional.
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*Edison Fontes. Mestre em Tecnologia, possui as certificações internacionais de CISM, CISA e CRISC. É consultor, gestor e professor de Segurança da Informação dos cursos de pós-graduação da FIAP. Compartilha seu conhecimento como colunista do site Information Week. Autor dos livros: Políticas e Normas para a Segurança da Informação (Editora Brasport), Clicando com Segurança (Editora Brasport), Praticando a Segurança da Informação (Editora Brasport), Segurança da Informação: o usuário faz a diferença! (Editora Saraiva) e Vivendo a Segurança da Informação (Editora Sicurezza). Atua na área de Segurança da Informação desde 1989.