As perguntas são mais importantes do que as respostas

2 de maio de 2016
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A frase não é minha, mas de ilustres como Voltaire, Peter Drucker, Brian Chesky e Joe Gebbia. Para Voltaire, “um homem deve ser julgado mais pelas suas perguntas do que por suas respostas”. Para Drucker, “o trabalho mais importante e mais difícil não é encontrar a resposta correta, mas fazer a pergunta certa”. Hal Gregersen, professor do Insead, explica que as “perguntas são as chaves que abrem portas em nossas vidas e trabalho. O desafio é encontrar a chave certa para a porta correta”.

Há muito tempo concordo com a importância das perguntas. Abro vários dos meus cursos com o emblemático artigo “Qual é o problema?” do consultor Stephen Kanitz. Neste artigo, Kanitz explica que “O maior erro que se pode cometer na vida é procurar soluções certas para os problemas errados”.

 

Mas se prestou atenção no texto até aqui, ainda pode ter ficado a pergunta: Mas quem são mesmo Brian Chesky e Joe Gebbia? Mais do que perguntar quem são eles, deveríamos prestar atenção nas perguntas que esta dupla se fez.

Em 2007, os dois eram jovens designers que moravam em uma boa casa em San Francisco, Califórnia. Mas havia uma pergunta que aparecia todos os meses: “Como vamos pagar o aluguel neste mês?” Ambos eram freelancers e viviam de pequenos trabalhos.

Naquele ano, a cidade iria sediar o International Design Conference e todos os quartos de hotéis da cidade estavam reservados. E os dois começaram a se perguntar: “Por que há tantas pessoas sem conseguir um quarto nos hotéis de San Francisco enquanto há muitas outras que têm espaços livres em suas casas e adorariam ganhar um dinheiro extra? E se nós conectássemos estas duas necessidades? ”

Se, com estas informações, você “chutou” a resposta e pensou que Chesky e Gebbia fundaram o Airbnb, acertou!

O Airbnb virou uma febre para quem gosta de viajar, se hospedar bem pagando pouco. Todos que usaram o Airbnb têm boas histórias para contar. Ficaram em uma casa frugal na Toscana, em um apartamento aconchegante em Paris ou em espaço minimalista em Tóquio. É claro que outros entraram em furadas, mas estes já escreveram poucas (ou muitas) e boas nas suas revisões sobre o serviço no site do Airbnb.

Mas os que usaram o Airbnb não ficaram sabendo das outras perguntas que seus fundadores se fizeram após a ideia inicial. Algumas dessas perguntas foram: “E se comprássemos três colchões de ar para ampliar nossa capacidade de hospedagem?” “E se preparássemos um café da manhã bem legal para nossos hóspedes?”. E “Por que não chamamos nosso serviço de air bed and breakfast? “.

Como eram designers, se perguntaram: “Por que não criamos nosso próprio site para oferecer o serviço?”. Com o sucesso inicial do serviço, pensaram em montar um negócio já que os turistas em San Francisco enfrentam este problema quase que o ano inteiro. Para o nome da empresa, preferiram reduzir “air bed and breakfast” para apenas Airbnb.

E as perguntas continuaram: “Por que não podemos oferecer este serviço para outros moradores de San Francisco? ”, “Por que não oferecer o serviço em outras cidades dos Estados Unidos? ”, “O que nos impede de oferecer o serviço em outros países? ”.  De pergunta em pergunta a empresa cresceu e atualmente é avaliada em 10 bilhões de dólares.

As perguntas dos fundadores do Airbnb são algumas das centenas apresentadas pelo jornalista Warren Berger em seu livro A More Beautiful Question: The Power of Inquiry to Spark Breakthrough Ideas, lançado neste mês.

Para Berger, todas as pessoas se tornam melhores quando adotam o questionamento como rotina. A principal começa com “por quê?”, seguida de “e se?”. Por fim, vêm as perguntas iniciadas com o “como?”.  Este questionamento é ainda mais poderoso para os empreendedores e líderes de empresas já que influenciam a vida de um número exponencial de outras pessoas, da sociedade e do meio ambiente.

Steve Ballmer foi um dos primeiros funcionários da Microsoft e se tornou um dos principais líderes da empresa ao lado de Bill Gates e Paul Allen. Ele conta que quando contou para seus pais que iria trabalhar em uma empresa fundo-de-quintal, seu pai perguntou “o que era software?”. Mas sua mãe fez uma pergunta poderosíssima que até hoje ele não tem uma resposta definitiva: “Por que alguém precisaria de um computador? ”

O poder das perguntas é tão instigador que centenas de empreendedores e executivos vão até as montanhas de Bolder, Colorado, simplesmente para ouvir as perguntas de Jim Collins, autor de vários livros de sucesso como “Feitas para Durar” e “Como as Gigantes Caem”.   Ele mesmo conta que desde que começou a ajudar empresas, inicialmente como professor de empreendedorismo na Universidade de Stanford, sabia da importância das perguntas. Como o passar do tempo, ele apenas aprendeu a refinar sua capacidade de questionamento.

As pessoas vão até lá para ouvir perguntas como:

  • Por que sua empresa existe?
  • E se ela desaparecesse amanhã, o que o mundo perderia?
  • Por que você tem as pessoas certas nos lugares certos na sua empresa?
  • Como ter as pessoas certas?
  • Como exigir o melhor dos seus colaboradores se a empresa não se esforça em ser a melhor do seu segmento?

Termino este artigo assim, com mais perguntas do que respostas. Por quê? Leia o título do artigo:)

Marcelo Nakagawa é diretor de empreendedorismo da FIAP, além de atuar como professor de empreendedorismo e inovação nas principais escolas de negócio do país. É membro do conselho da Artemísia Negócios Sociais e da Anjos do Brasil, mentor do Instituto Empreendedor Endeavor, coordenador acadêmico do Movimento Empreenda da Editora Globo, colunista do Estadão PME e da revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios. É pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Gestão Tecnológica e Inovação da USP. Possui mais de 20 anos como executivo, tendo atuado nas indústrias financeira/bancária, consultoria empresarial, venture capital, inovação e private equity. É doutor em Engenharia de Produção (POLI/USP), mestre em Administração e Planejamento (PUC/SP) e graduado em Administração de Empresas. Autor do livro Plano de Negócio: Teoria Geral (Editora Manole, 2011) e co-autor dos livros Engenharia Econômica e Finanças (Elsevier, 2009), Sustentabilidade e Produção: Teoria e Prática para uma Gestão Sustentável (Atlas, 2012) e Empreendedorismo inovador: Como criar startups de tecnologia no Brasil (Evora, 2012).

 

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