Como motivar sua equipe

17 de maio de 2016
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You may say I’m a dreamer, but I’m not the only one. I hope some day you’ll join us. And the world will be as one.

No início da década de 1970, Guy era mais um dos garotos que amavam os Beatles e sonhavam em ganhar a liberdade. Filho de uma família de classe média, passava seu tempo entre a escola, aulas de teatro, artes marciais e canto. Por isso, imaginava viajar o mundo, sempre a cantar, afinal era um sonhador, mas não era o único da sua época. Não queria ir para a guerra. Queria ser livre para honrar seu sobrenome.

 

Por isto, Guy Laliberté, já aos 14 anos vivia nas ruas cantando, acompanhado da sua sanfona e contando histórias para os que paravam interessados em ouvir suas aventuras. Cada vez mais confiante com o dinheiro que as pessoas depositavam no seu chapéu, Guy viajou para a Europa, aos 18 anos.

Chegou em Londres quase sem dinheiro e lugar para ficar. Dormiu a primeira noite em um banco do Hyde Park. Mas rapidamente fez amizades com outros artistas de rua. Aprendeu técnicas de engolir fogo, malabarismo, mágica e perna de pau e visitou várias cidades europeias. Foi um ano de intensos aprendizados, aventuras e mais confiança na sua capacidade de entreter o público.

De volta a Quebec, cidade em que morava, Guy não só dominava várias técnicas de arte de rua, mas também já organizava pequenos shows com a colaboração de outros artistas.

“Convide artistas de rua, pague um sanduíche e eles ficarão muito felizes. Gerencie o dinheiro que jogam no chapéu e seja disciplinado com aquilo que você faz” – explicou Guy sobre como começou e, na verdade, sobre como gerencia seu negócio até hoje.

Em 1984, a cidade de Quebec completaria 450 anos e para celebrar o acontecimento, a prefeitura preparou vários eventos, incluindo a contratação de Guy e seu sócio Gilles Ste-Croix para organizarem vários shows na rua da cidade para entreter os visitantes. Com dinheiro e muita criatividade, a dupla preparou shows de encantamento quase hipnótico, tamanha a qualidade visual e de execução dos grandes artistas contratados.

A maioria dos artistas estava plenamente realizada com o reconhecimento do público. Finalmente tinham muito orgulho do trabalho que executavam há tantos anos. Entreter o público já não era apenas um passatempo, mas uma grande e nobre responsabilidade. Mas e agora que as festividades acabaram? Ciente disso, Guy propôs a criação de um circo em que todos seriam profissionais pagos. Todos teriam uma carreira e não precisariam mais se sujeitar a ficar passando o chapéu. Todos seriam astros do Circo do Sol. E o resto da trajetória do Cirque du Soleil você conhece em alguma ou todas as partes.

Todos os grandes empreendedores querem, pelo menos em sonho, reunir os melhores talentos que conhece da região, estado, país ou até do mundo.
Mas como pagar para ter os melhores?

A reposta pode estar na reflexão do trabalho de Frederick Herzberg publicado em 1968 na Harvard Business Review. Seu artigo One more time: how do you motivate employees? se tornou um clássico da Administração e até hoje é discutido.  (Clique na tabela para ampliá-la)

 

tabela

Herzberg explicou que há dois tipos de fatores que podem influenciar no desempenho do colaborador. O primeiro tipo de fatores são os higiênicos que incluem a política da empresa, a qualidade da supervisão, o relacionamento com o chefe, por exemplo.

Este tipo de fator quando presente, não necessariamente aumenta o nível de satisfação do colaborador, mas se ausente ou com qualidade ruim, com certeza o torna mais insatisfeito.

Curiosamente, salário entrou como um fator higiênico. Ou seja, um ótimo salário não necessariamente motiva o colaborador no médio e longo prazo, mas um salário ruim, com certeza desmotiva. Aqui entra o “sanduíche” mencionado pelo fundador do Cirque du Soleil.

Mas há os fatores motivadores, que quando ausentes não causam insatisfação, mas quando presentes oferecem motivos para que o colaborador faça mais e melhor aquilo que é esperado dele.

A Teoria dos Dois Fatores de Herzberg até hoje é polêmica, com estudos comprovando e negando sua lógica, mas serve como material para reflexão sobre como empreendedores podem reunir os melhores talentos para criar o maior espetáculo da Terra.

E você não pode negar que Guy Laliberté já não é mais um sonhador. Em 2006, o Cirque du Soleil estreou o show The Beatles Love em Las Vegas, sucesso absoluto desde que o primeiro ingresso foi colocado à venda.

 

Marcelo Nakagawa é diretor de empreendedorismo da FIAP, além de atuar como professor de empreendedorismo e inovação nas principais escolas de negócio do país. É membro do conselho da Artemísia Negócios Sociais e da Anjos do Brasil, mentor do Instituto Empreendedor Endeavor, coordenador acadêmico do Movimento Empreenda da Editora Globo, colunista do Estadão PME e da revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios. É pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Gestão Tecnológica e Inovação da USP. Possui mais de 20 anos como executivo, tendo atuado nas indústrias financeira/bancária, consultoria empresarial, venture capital, inovação e private equity. É doutor em Engenharia de Produção (POLI/USP), mestre em Administração e Planejamento (PUC/SP) e graduado em Administração de Empresas. Autor do livro Plano de Negócio: Teoria Geral (Editora Manole, 2011) e co-autor dos livros Engenharia Econômica e Finanças (Elsevier, 2009), Sustentabilidade e Produção: Teoria e Prática para uma Gestão Sustentável (Atlas, 2012) e Empreendedorismo inovador: Como criar startups de tecnologia no Brasil (Evora, 2012).

 

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